sábado, outubro 14, 2006

HANNAH ARENDT - OS CEM ANOS DA POLÍTICA



São conhecidas as (pouco politicamente correctas) observações de Robert Ardrey sobre a desigualdade dos géneros em três áreas da cultura - na Filosofia, na Música (significando a alta composição musical) e no Teatro (referindo-se também à criação dramática a nível de um Ésquilo ou de um Shakespeare). Fora disto, as "nossas irmãs" do género feminino têm dado todas as provas nas ciências, artes e humanidades de serem iguais ou melhores que nós, os homens.

Perante esta "exclusão", que vejo irritar algumas das minhas amigas e interlocutoras, embora não encontrem exemplos contraditórios à tese de Ardrey, eu seria tentado a avançar uma excepção pelo menos na filosofia política: embora a própria negasse sê-lo, Hannah Arendt é o que mais se aproxima de uma grande pensadora política. Não uma pensadora "sistémica", mas uma pensadora dialéctica, uma pensadora da crise, com particular engenho e força, no estudo de alguns dos grandes capítulos da História Política da Modernidade, como a análise e teorização do Totalitarismo e da Revolução, ou das "revoluções" continental e atlântica.

Nascida em 14 de Outubro de 1906, em Hanover, estudou em Marburgo, onde teve um "romance" com Martin Heidegger, já casado, seu professor e mais velho 17 anos. Arendt doutorou-se com uma tese sobre Santo Agostinho. Mais tarde seguiu o itinerário de muitos académicos e intelectuais judeus na Alemanha dos anos 30: emigração para França e, depois, para os Estados Unidos. Aqui, em 1951, publicou As Origens do Totalitarismo, edição definitiva em 1958. Neste tempo, fazer o paralelo entre a Alemanha de Hitler e a União Soviética de Estaline era contra a "correcção política" dominante, que considerava a primeira uma Abominação e a segunda um Paraíso, apenas à espera de alguns retoques. Arendt publicou, até à morte em 1975, em Nova Iorque, toda uma série de ensaios e estudos, de teoria política e História das Ideias, reflectindo com grande liberdade de espírito e fundamentação erudita, e às vezes a contra corrente da sua própria tribo - os intelectuais judaico-atlânticos da diáspora americana - sobre os grandes temas da polis na modernidade.

Vamos, aqui na Futuro Presente, falar da sua vida e da sua obra em edição próxima.

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