sábado, outubro 21, 2006

Homenagens... - II

No dia em que se homenageia Vasco Gonçalves e em que me sinto triste e envergonhado como português, aqui ficam uns poemas de um dos maiores poetas lusos: António Manuel Couto Viana.

Tempo de trevas
Foi depois da traição
De quem lhe foi guerreiro e missionário
Que o ergueram no alto do calvário
Com um cravo de sangue em cada mão.

Ladeiam-no ladrões, o escárnio da escória
E um bando de soldados
Que lhe perdeu aos dados
Cinco séculos de História.

Tudo é treva em redor.
(Prouvesse a Deus que fosse nevoeiro!)
Chegou o instante derradeiro?
Chegou ao extremo o estertor?

Como é lenta a agonia!
Como ele morre devagar!
Quanto tempo teremos de esperar
Pelo terceiro dia?

* * *
Portugal
Este mendigo, outrora, era um menino d'oiro,
Teve um Império seu, mas deixou-se roubar.
Hoje, não sabe já se é castelhano ou moiro
E vai às praias ver se ainda lhe resta o mar!
* * *
De Profundis
Agora, o meu país são dois palmos de chão
Para uma cova estreita e resignada.
Tem o formato exacto de um caixão.
Agora, o meu país é pó, é cinza, é nada.
Reduziram-no assim para caber na mão
Fechada!
* * *
Identidade
Para Campos e Sousa
O que diz pátria mas não diz glória,
Com um silêncio de cobardia,
E ardendo em chamas chamou vitória
Ao medo e à morte daquele dia;
A esse eu quero negar-lhe a mão;
Negar-lhe o sangue da minha voz
Que foi ferida pela traição
E teve o nome de todos nós.
...................................................................
O que diz pátria, sem ter vergonha,
E faz a guerra pela verdade,
Que ama o futuro, constrói e sonha
Pão e poesia para a cidade;
A esse eu quero chamar irmão,
Sentir-lhe o ombro junto do meu,
Ir a caminho de um coração
Que foi de todos e se perdeu.
* * *
NOTA: Todos os poemas transcritos foram retirados da antologia poética Sou quem fui de António Manuel Couto Viana, publicada pela Ática em Maio de 2000.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Anda, a galope ou a trote,
uma besta à chicotada;
mas, dos homens a chicote, ninguém pode fazer nada

Só quando a hipocrisia
Cair do seu pedestal
Nascerá, dia após dia,
Um sol pra todos igual.

sábado, outubro 21, 2006 11:05:00 da tarde  

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