sexta-feira, outubro 27, 2006

Padrinhos


Este ano estou a dar no ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - uma Cadeira de Crime Transnacional. Para além da teorização dos factores - porque surge "o crime organizado", que mercados explora, quais são as conexões com as diásporas comerciais ou religiosas, quais os fundos que manipula - há outros aspectos interessantes. Dos "factores"de origem, em que aparecem a debilidade ou ausência do Estado - a mafia da Sicília é o caso mais conhecido -às "trust chains" logísticas, e aos rituais e códigos dos "marginais , o "crime organizado"tem uma história literária e cinematográfica riquíssima.

A começar pelos Padrinhos e por esses monumentos que são o I e o II filmes da saga. O III, não é tão bom, no seu update, mas vou-me habituando.

Na verdade, as primeiras cenas de O Padrinho, com o comerciante italo-americano bem sucedido que vem pedir justiça a D. Vito Corleone - Marlon Brando, em casa, no dia do casamento da filha do "Chefão", são um paradigma simbólico e explicativo de todo o mundo complexo dos poderes paralelos.

"I believe in America". Pois é. Mas na hora, a justiça americana falhou e o pai de família, com a filha desonrada e seviciada, pede justiça ao seu conterrâneo poderoso, contra os agressores, poupados pela justiça oficial.
E D. Vito dá-lhe essa justiça, depois de fazer sentir ao suplicante que, no passado, ele não teve actos de "amizade" e deferência, que a merecesse. Mas dá-lhe uma oportunidade e a mão a beijar. É uma "encomendação" feudal, a troca da obediência pela protecção, num gesto e pacto de lealdade.

O crime organizado e os grandes "chefes" do crime seduziram os americanos, também porque sendo os EUA uma República fundacional, nunca tinham conhecido o poder político absoluto - o poder de dar a morte e salvar a vida. Um poder que os reis têm nas sociedades tradicionais, mas nos EUA democráticos nunca existiu, legal e realmente no interior do país. Por isso D. Vito Corleone encarnou este "mistério" do poder. E os Padrinhos são tratados sobre o poder - que por ser assim se torna "político" - através de gang stories.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Fala-se no assassinato de Jonas Malheiro Savimbi?

sábado, outubro 28, 2006 7:38:00 da tarde  

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