quinta-feira, novembro 23, 2006

"Grandes Americanos": uma reflexão sobre os EUA (1)


The Atlantic Monthly organizou um inquérito para saber "quem foram as figuras mais influentes da História americana". A pergunta foi dirigida aos leitores e a dez reputados historiadores, dando origem a uma lista "The top 100". A lista abre com os "10 mais":

1 - Abraham Lincoln
2 - George Washington
3 - Thomas Jefferson
4 - Franklyn Delano Roosevelt
5 - Alexander Hamilton
6 - Benjamin Franklin
7 - John Marshall
8 - Martin Luther King Jr.
9 - Thomas Edison
10 - Woodrow Wilson

Olhando estes primeiros nomes nota-se que: dominam os políticos. Há 5 presidentes - Lincoln, Washington, Jefferson, F. D. Roosevelt, W. Wilson; um Presidente do Supremo, que consolidou o poder judicial - Marshall; 3 pensadores, homens de Estado e políticos activos - Hamilton, Franklin e Martin Luther King Jr. E apenas um não político - um inventor de génio - o "mais prolífico inventor da História americana" - Thomas Edison. De resto, nos primeiros dez, nem um banqueiro, nem um industrial, nem um escritor ou poeta.

Quanto à linha política destas figuras, Hamilton é de direita - o nacional-conservador realista; Jefferson, de centro-esquerda - liberal progressista; Franklin o "ilustrado" por excelência; Washington é conservador e realista; Wilson, mundialista e utópico; Martin Luther King, de centro-esquerda.

Os membros do painel justificam a sua escolha recair em Presidentes, legisladores e políticos, na base de que os Estados Unidos são "institucionais", que há desde sempre um "império da lei" e as leis moldam a vida nacional. Faz sentido.

O "inventor", o criador científico-técnico, também faz sentido e a América teve muitos. Talvez não tantos como a Inglaterra. Em Vespasiano, Belo Horizonte, Brasil, dizia-me há 30 anos o António Champalimaud: "Os Ingleses inventaram tudo o que tem a ver com física e química e máquinas". É verdade. E a América seguiu a tradição.

Abraham Lincoln é o homem que faz a guerra para manter a unidade nacional e, subsidiariamente, acabar com a escravatura no Sul. George Washington é o fundador, o soldado e político, como o nosso D. Afonso Henriques; Jefferson o autor do "All men are created equal". ("What about black slaves in the plantations..."). A importância de Martin Luther King foi ser o símbolo dessa solução; que se deve também muito a Richard Nixon e à sua política de empowerment, que criou uma classe média negra - 1/3 do total, mas alguma coisa. Donde vêem os Powell, as Condolezza Rice, os Clarence Thomas. Todos republicanos e conservadores. Há muitos problemas na América, os Afro-americanos continuam a ter níveis de educação, habitação, criminalidade diferentes e piores dos níveis nacionais, mas a conquista da dignidade está feita.

3 Comentários:

Blogger Pedro Botelho disse...

"What about black slaves in the plantations"?...

Bem, de certo modo, essa crítica implícita à formulação igualitária jeffersoniana faz lembrar aquele tipo de visão que sempre que algo que não está ao imediato e fácil alcance é apontado, procura olhar o dedo em vez daquilo que o dedo aponta.

Convém não perder de vista que a Declaração de Independência é uma proclamação de princípios e não uma constituição de leis: a desejável igualdade legal à nascença situa-se a par dos "direitos à Vida, Liberdade e procura da Felicidade" que também não estão -- e jamais poderiam estar -- taxativamente legislados ou em perfeito acordo com todos os aspectos societais das 13 colónias setecentistas.

No entanto, foram esses vagos princípios, mais idealistas que ideológicos (como diríamos hoje), que presidiram ao rigoroso e cerrado Bill of Rights, ainda hoje a verdadeira e portentosa âncora da liberdade americana que todos nós, tristes europeus, não podemos senão contemplar com inveja.

Não sei quem foram os 100 nomes "influentes" escolhidos, nem dou grande importância a esse género de sondagens à opinião pública, mas poucos mereceriam mais ser recordados com gratidão do que George Mason, o mais directo e importante dos arquitectos dessas 10 milagrosas emendas, parte integrante da Constituição desde a sua primeira hora.

sexta-feira, novembro 24, 2006 5:12:00 da manhã  
Blogger CN disse...

Lincoln defendeu a União é certo. Mas sem base constitucional para isso, porque os EUA nascem precisamente da secessão contra o Império Britânico e a declaração de independência fala de "Estados". Além de que nem era abolicionista nem o tema apresentado sequer nos primeiros tempos do conflito. Lincoln era pela consolidação do poder executivo e por um novo nacionalismo ausente na fundação americana e ponto final. Hitler refere Linclon no seu livro, usando-o como referência para justificar o ponto final à noção de quaisquer direitos tradicionais dos vários estados alemães.

Devia importar para um conservador, que Lincoln ao mesmo tempo que não era cristão, sendo mesmo algo hostil, enchia a sua retórica de referências religiosas. Tal como passou a usar a emancipação como estratégia de vitória. Alguns abolicionistas conhecidos eram sulistas e combateram pelo Sul (Mark Twain por exemplo).

A guerra civil foi a segunda guerra moderna depois de Napoleão.

sexta-feira, novembro 24, 2006 9:52:00 da manhã  
Blogger jaime nogueira pinto disse...

Obrigado caros Pedro Botelho e CN pelos vossos comentários.Estes "100" não são uma selecção "popular",mas a escolha de 10 historiadores.A votação "popular" é post-selecção.O Lincoln era ,também ,um "politicão", e usava como tal a retórica do tempo . Se era cristão ou não só Deus sabe.Tenho a certeza que sabe.

sexta-feira, novembro 24, 2006 8:34:00 da tarde  

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