domingo, maio 20, 2007

A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO:1968, 2007

"Durante alguns dias - quem dera que não fossem esquecidos mas sim compreendidos - durante alguns dias, mesmo os mais distraídos verificaram por si próprios a função essencialmente subversiva dessa 'informação moderna', imposta como um direito e aclamada como um progresso por todos os partidários conscientes ou inconscientes da Revolução. Não a informação tendenciosa, enganadora, pérfida, que também não falta: mas a informação em si própria, sobretudo a àudio-visual, que é por natureza uma lavagem de cérebro e tende a transformar os seus auditores-espectadores em outros tantos alucinados sem crítica e sem defesa."
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"Entre mil exemplos de Maio de 1968 vou escolher apenas o mais anodino. Os exemplos anodinos são os mais claros, visto que a paixão, a emoção e a interpretação não interferem com a sua análise e o mecanismo aparece ali em toda a claridade do seu esquema essencial. Vou escolhê-lo no jornalismo impresso e nada menos que em Le Monde de 25 de Maio, 1ª edição, página 4, um título a duas colunas: Incidentes em Lyon, Bordeaux, Caen.

É este portanto o título, entre outros títulos, com o seu lugar na orquestação, reforçando o tom geral e contribuindo para amplificar o movimento.

Eis aqui o respectivo texto:

1 - Quanto a Lyon, cito literalmente: "Não houve incidentes".

2 - Quanto a Bordeaux: tudo se passou nesse dia "sem qualquer confrontação".

3 - Quanto a Caen: "Não houve incidentes".



Visto isto, o leitor exclamará sem dúvida:

'Grandes malandros! Foram apanhados com a mão na massa. Fazem de propósito.'


É um juizo que não deixa de ser merecido. E é bem feito. Mas, na minha opinião, não se trata disso.A escolha do título é um reflexo automático."

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"Reduzamos o esquema ao seu esqueleto.
Um jornal que saísse com o título: Hoje não houve nada de novo, ninguém o compraria, ninguém o leria. Bastaria ao leitor avulso ver a primeira página no quiosque para saber tudo o que precisava de saber. O assinante nem o abriria. Para atrair o comprador, para chamar a atenção do assinante, um jornal tem que anunciar que Tudo mudou ou É tudo novo. Esta simples necessidade técnica está na raiz do carácter fundamentalmente subversivo daquilo a que chamamos "a informação". Não funciona com um mínimo de realidade psicológica e de eficácia comercial a não ser que funcione no sentido da mudança, da mutação permanente, do espectáculo universal, da revolução. O que é sólido, o que é estável, o que permanece não é matéria de informação."

Jean Madiran - "Après la Révolution de mai 1968", Itinéraires, nº 124, Junho 1968 (Supplément)

"Para ser competente, um jornalista deveria olhar para as coisas como um historiador e minimizar o valor da informação que fornece. (...) Mas perderia certamente o emprego se trivializasse o valor da informação que tem entre mãos. Infelizmente, não só é difícil para o jornalista pensar mais como historiador, é o historiador que cada vez se torna mais parecido com um jornalista."

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"O problema da informação não é distraír-nos e ser cada vez mais inútil, mas ser tóxica."
Nassim Nicholas Taleb, Fooled by Ramdomness - The Hidden Role of Chance in Life and in the Markets, Penguin Books, 2007 [Texere, 2004]