sábado, maio 19, 2007

SERENDIPITY

Relê-se em diagonal Farewell, My Lovely, de Raymond Chandler para confirmar ou infirmar uma referência alheia - e repara-se numa expressão pitoresca e esquecida:"Harlem sunsets". Percebe-se que não é de esperar nada de bom para quem é sujeito a esse "pôr do sol de Harlem", mas será uma expressão idiomática, mais uma invenção de Chandler? Meia dúzia de horas depois, folheia-se preguiçosamente um dicionário de calão (Gangster Speak - A Dictionary of Criminal and Sexual Slang, James Morton, Virgin Books, 2002) e lá está, a saltar da página aberta ao acaso: Harlem sunset - facada mortal [Harlem sunset (US) - fatal knife wound]. É um exemplo menor de serendipity, no meu entendimento da palavra. Serendipity é um termo que recentemente tem começado a aparecer aqui e ali nos jornais portugueses, normalmente na boca de cientistas. Diz a Wikipedia que a palavra foi criada no século XVIII pelo escritor inglês Horace Walpole. Origem: um conto tradicional persa (persa!) - "Os três príncipes de Serendip" - como explica o próprio inventor, numa carta que a Wikipedia cita, com a transcrição do trecho relevante. Walpole achava que era uma boa maneira de exprimir sucintamente aquilo que designa por "sagacidade acidental". O termo foi adoptado e serve, como queria Walpole, para designar "a descoberta acidental de alguma coisa agradável, valiosa ou útil" (Encarta). Para mim, há um elemento de inefável "coincidência" associado ao termo. É pela possibilidade - para não dizer probabilidade - dessa "sagacidade acidental" que ultimamente alguns especialistas em "organização" consideram mais "produtivas" as mesas desarrumadas do que a mesa vazia de papeis e os ficheiros perfeita e imediatamente arrumados que outros manuais enaltecem.

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