quinta-feira, setembro 06, 2007

DESCOLONIZAÇÃO: À FRANCESA - ARGÉLIA 1

Nos anos 50 e princípios dos 60 o grande combate "anti-colonialista" travou-se na Argélia, antes - e, por muito pouco tempo, durante - a nossa Guerra do Ultramar. A resistência de Portugal em África perdurou, e venceu, por mais de dez anos depois da capitulação da França. Acabou por quebrar, já se sabe, mas talvez tenha "morrido na praia", como se costuma dizer.

A "Argélia Francesa" foi uma causa "nossa". Detestámos então, intensamente, o General De Gaulle, o "maquiavel" pomposo, sem nobreza e sem verdadeira grandeza, que se começara a revelar como jovem oficial desleal e astuto na Grande Guerra e depois de cavalgar o patriotismo francês durante a II Grande Guerra consentira na imolação dos patriotas da Resistência às ambições e manobras do Partido Comunista do desertor e "colaboracionista" avant la lettre Maurice Thorez. Um nojo. Fazíamos nossas as dores de Maurice Bardèche, cunhado do Robert Brasillach "assassinado legalmente", por despeito. Em 58 e nos anos seguinte voltava a trair: enganava os camaradas de armas que o tinham alcandorado ao poder, e os pieds-noirs e os harkis, cuja história e tragédia uma nova geração traz de novo à actualidade, em livros (veja-se, entre muitos outros e só como exemplo, Un mensonge français - Retours sur la guerre d'Algérie, de Georges-Marc Benamou, 2003), debates de televisão, etc. Sempre ele, Lui qui les juge, como diz o título de um dos livros que nesse tempo publicou o advogado Jacques Isorni. Líamos com indignação esses livros e com gáudio o panfleto de Jacques Laurent Mauriac sous De Gaulle e quantas diatribes se publicavam sobre o oráculo de Colombey-les-Deux Églises. Nunca perdoámos ao homem.

Foi, inesperadamente, o Boletim da Ordem dos Advogados ali ao Largo de S. Domingos a vir relembrar-me essas velhas histórias: o número 47 (Maio-Agosto de 2007) da OA inclui um artigo de Carlos Pinto de Abreu, sobre o julgamento, condenação e execução do "último francês fuzilado", o Tenente Coronel Bastien Thiry, que comandou o célebre atentado dito do Petit-Clamart contra De Gaulle. Já li coisas mais bem escritas e não traz novidades, mas não deixa de ser interessante.

3 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Bravo! Tem carradas de razão!
Pela primeira vez vejo algo, escrito em Portugal, que mostra o que era esse figurão alto mas pequenino homem de Colombay-les-Deux Églises.
Cumprimentos

sexta-feira, setembro 07, 2007 9:30:00 da manhã  
Blogger A.Teixeira disse...

É preciso um pouco mais do que generosidade de análise para considerar o colonialismo português a “talvez ter morrido na praia, como se costuma dizer”. Não tenho bem a certeza do que o autor do poste entenderá nessa metáfora por “chegar a terra firme”, mas os episódios das independências do Zimbabwe (1980) e Namíbia (1990) na África Austral transformam “a praia” num extenso “areal de 16 anos” em que Portugal estaria a ser permanentemente coagido a conceder a autodeterminação aos seus territórios africanos. O autor deste poste é de opinião que teria sido possível resistir? Ou não “frequentamos as mesmas praias”?

sábado, setembro 08, 2007 5:27:00 da tarde  
Blogger Miguel Freitas da Costa disse...

Todos sabemos como o contexto internacional condicionou a situação de Portugal - e também como esse contexto se alterou entre 1974 e 1980 e, depois,1989. Teria sido posível resistir? Acho que sim. Com êxito? Não sei. É legítimo duvidar. Mas cada ano de resistência, apesar de todos os sacrifícios que isso implicou e implicaria para muitos, poupou e pouparia centenas de milhares de pessoas às depredações, sofrimentos, privações, misérias que hoje estão à vista de todos nesses enormes "areais" de que fala a. teixeira, e nos que não fala, todos ensopados em sangue - e que as "soluções políticas" dos mais hábeis "descolonizadores" não evitaram em parte nenhuma de África. As praias são as mesmas. Não as vemos com os mesmos olhos. Teria muito gosto em continuar esta conversa mas infelizmente o tempo e o espaço são limitados.

segunda-feira, setembro 10, 2007 12:05:00 da tarde  

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