segunda-feira, setembro 10, 2007

TARDE DE TOROS

Não sou frequentador dos tendidos, não porque desgoste de assistir a corridas de touros e até a "touradas", à portuguesa. Nunca calhou. Mas o meu interesse na matéria é sobretudo literário. Vi muitas corridas na minha mais tenra infância, graças ao meu avô paterno que era grande amador da fiesta. Ria na mesma, com fair play, quando líamos em voz alta o André Brun e aquelas linhas taurinas em que ele fala da sorte de estoque e observa que "quando a espadinha dá em osso o diestro leva marrada até no céu da boca". Tenho amigos aficionados. Por causa deles, soube que o diestro José Tomás - um daqueles toureiros mercuriais e carismáticos, entre o génio e a espantá - talvez não toureie esta semana, como estava previsto, numa das corridas da Feira de Salamanca, devido a uma recente colhida.
Tinha lido em El Mundo que José Tomás é um toureiro que parece procurar o sofrimento: "De uma dúzia de festejos que leva toureados - escreveu Javier Villan nesse jornal, há dez ou doze dias - José Tomás foi revolcado, que me lembre, em Barcelona, Burgos, Ávila, San Sebastián, e Málaga. Não sei se é verdade mas dizem-me que, dias antes da sua reaparição, no silêncio de uma praça sem público, um touro, à porta fechada, também atirou com ele ao ar e lhe deu uma respeitável sova. Se é verdade, demonstra a ideia metafísica que tem do toureio José Tomás. Há uns anos, em pleno apogeu tomasino, escrevi - sobre umas fotografias luminosas de Anya Bartels - um texto a que dei o título de José Tomás, claves rituales de un enigma, livro que fala do sentido sacrificial do seu toureio, de um entrosamento brutal com a tragédia."
A história desta última colhida é mórbida. O toureiro participou na corrida celebrada na mesma praça e no mesmo dia em que fazia exactamente 60 anos foi morto Manolete, seu ídolo, corneado pelo famoso e infame Miura de nome "Islero". (De Manuel Rodríguez "Manolete" - se conta, se não me engano, a seguinte história: ajudavam-no a vestir-se; um dos ajudantes terá sentido no toureiro um arrepio e perguntou-lhe "Tiembla Usted Maestro?" - e a resposta terá sido "Sí, es el miedo, ese viejo amigo mío." Não tenho a certeza se foi também de Manolete outra célebre resposta: Não tem medo das cornadas? - Más cornadas da el hambre.) Mal José Tomás saltou ao ruedo em Linares, no passado dia 28 de Agosto, para o seu primeiro touro, foi logo ferido. Com um torniquete de emergência, improvisado por um dos membros da quadrilha, concluiu a faena, matou o touro, cortou duas orelhas. Triunfo. Segundo o parte médico sofreu "uma cornada na coxa direita, com duas trajectórias, de 10 e 15 centímetros". Para já, saiu vivo do transe e recebeu o Troféu Manolete.

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