segunda-feira, março 03, 2008

QUE FITA VAI HOJE? - A DESAPARECIDA NÃO É "A DESAPARECIDA"

O nosso intervalo acabou. (Nas sessões de cinema de antigamente havia dois intervalos, entre os "complementos" e a primeira parte do filme - e a meio do filme; dez minutos de cada vez para tomar um café, comer um bolo, fumar um cigarro, discutir o filme e tomar parte na vida social que fazia parte de ir ao cinema. O intervalo, desaparecido durante muito tempo com a chegada dos "multiplexes" e a sua funcionalidade mais apressada, renasce nalguns casos: é preciso vender as pipocas e a Coca Cola à conformada juventude rebelde.)
A campainha que nos chamou para dentro da sala outra vez foi a notícia lida esta manhã - que se verificou nitidamente exagerada - de que hoje o Canal Hollywood (23.30) passava The Searchers (A Desaparecida, 1956), um dos filmes mais importantes de um dos mais importantes e prolíficos realizadores norte-americanos, John Ford. Mas era um rebate falso. O filme de que se trata, embora com o mesmo título em português, é The vanishing (1993), um remake americano dirigido pelo realizador holandês George Sluizer do seu próprio filme Spoorlos (1988), que lhe granjeara a sua meia hora de fama e foi candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1989. Sluizer dirigiu em Portugal o filme de Diogo Infante Mortinho por chegar a casa ( Dying to go home, 1996). O verdadeiro A Desaparecida foi um dos vários argumentos escritos para John Ford por Frank S. Nugent (1908-1965) entre os anos 40 e os anos 60: foi ele quem escreveu, por exemplo, Forte Apache (1948), The quiet man (O homem tranquilo, 1952), The Last Hurrah (O último hurra, 1956, com Spencer Tracy - um filme sobre política americana que vem muito a calhar nesta época de presidenciais USA e está em promoção na Fnac) e Two Rode Together (Terra Bruta, 1961); não é pouco. Foi uma colaboração marcante que resultou em vários excelentes filmes e cujo último episódio foi um filme despretencioso e menor mas divertido e desenxovalhado que se chamou Donovan's Reef (1963) e foi estreado no cinema Império, com o título português de A Taberna do Irlandês. Frank S. Nugent começou por ser jornalista desportivo, passou a crítico de cinema (um crítico arguto: estão disponíveis na internet por cortesia do NYTimes algumas das suas críticas dos anos 30) e depois, até ao fim de uma vida não muito longa, argumentista em Hollywood. Na sua maior parte os seus argumentos foram escritos para filmes de Ford.
P.S. (4-3-07) - Quem procurar The Searchers na web vai encontrar em doses iguais e alternadas informações sobre o filme de Ford e o conjunto inglês dos anos 60 do mesmo nome. Francamente não me lembro deles, mas toda a gente se lembra pelo menos de um dos seus êxitos Sweets for my sweet, mesmo quem não liga o nome às pessoas. A coincidência não é casual: segundo o sítio oficial da banda o nome do conjunto foi tirado do filme.

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