quinta-feira, maio 01, 2008

AS DATAS DA LIBERDADE

A libertação de Itália que é comemorada em 25 de Abril tem como imagem emblemática o açougue a céu aberto em que Mussolini, Clara Petacci e outros "porcos" fascistas depois de "sumariamente executados" - ou seja, assassinados e mutilados pelas milícias comunistas - foram dependurados pelos pés numa praça de Milão, para edificação do povo e educação das futuras gerações - como recordou o "Público" na efeméride do passado dia 28. Não foram as únicas "execuções" da época nem essa meia dúzia de dignitários fascistas as únicas vítimas da guerra civil italiana. Fair enough, como diriam os nossos mais antigos aliados.
É curioso como todas as "libertações" que festejamos encabeçam um cortejo de atrocidades e têm no seu haver centenas de milhares de vítimas, no que o nosso 25 de Abril não é excepção - se quisermos, claro, contar com os "retornados", os "espoliados", os contra-revolucionários torturados ou presos ou, sobretudo, as populações dos territórios africanos "sob administração portuguesa" - mas esses, claro, ou estavam "condenados pela história" ou eram - e são - pretos, ou de qualquer outra tonalidade mais ou menos pardacenta, e portanto não merecem consideração. A história pode ser contada de outra maneira, ou de maneira mais pequenina, que é o que fazem por exemplo Vasco Pulido Valente e Rui Tavares, numa recente troca de palavras sobre o "que fez o 25 de Abril por nós?". E até pode ser convenientemente inventada, como no caso (vou citar Rui Tavares) de umas supostas "mentes retroactivas (?) da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano, porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários." (A "única" ou a "melhor" ou "uma delas"? Como em Espanha, por exemplo? Os "marcelistas" podem ser estúpidos mas não tão inadvertidamente.) Esta interessante discussão exigiria muito espaço: é extraordinário dizer-se, sem rir, que o notório "desenvolvimento" dos últimos cinquenta anos em Portugal se deve a um 25 de Abril que além de pôr termo a uma das poucas experiências bem sucedidas de "desenvolvimento" no continente africano, levou dez ou quinze anos a alçapremar-nos ao mesmo patamar de progresso material em que estávamos em 1973. E falar de tudo isto como se o resto da Europa e do mundo não tivessem mudado desde 1945. E por aí fora. Mas é difícil "estar motivado" para um debate em geral tão enviesado.

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